Não adianta
Me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada
Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou
Hoje, a tarde tem cheiro doce. Tem mesmo, não quero ser poética. Matei aula sem dor alguma para dedicar minha tarde (Quem sabe a noite, também? Por que não?) a algumas coisas que eu gosto: dediquei à bolacha recheada de chocolate, ao Chico, à leitura que agrada, enriquece e excita, dediquei ao colchão da
À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo
Tenho chorado tanto, mas um choro bom. Nada bruto, nada que produza marcas intensas embaixo dos olhos. Algo bem mais sensível, até com uma certa beleza. Tenho essa estranha mania de achar a tristeza linda, linda de verdade, com uma pureza que encanta os olhos de quem vê. Choro com o Vinícius, com a Marisa, com a Rita, com a Elis, tenho chorado até com canção de roda. É...
...mas continuo achando a tristeza linda. A minha, sim.
Passa a nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer
Mais ninguém
Outro dia, aquela chuva torrencial resolveu me pegar enquanto andava na rua. Imediatamente procurei um toldo e embaixo dele fiquei. O toldo era de uma loja de trecos. Aqueles montes de utensílios que todo mundo um dia vai precisar - seja pro chuveiro, pra torneira, pro fogão, até artesanato da esposa o dono da loja vendia - cabiam dentro daquele pequeno metro quadrado. Não passaram dois minutos e eu já estava ensopada dos pés a cabeça, quando o velhinho me convidou a entrar na loja para me proteger. A chuva passou, a chuva voltou, conheci o filho, o cachorro, - que ali também morava - conheci sua história e ele conheceu a minha. Depois de uma hora deixei a loja e ainda peguei um pouco de chuva, mas nem liguei. Estava feliz de verdade. Esses encontros acontecem e enchem a gente de esperança, sei lá! Não sei como nomear, mas foi delicioso. E chorei. Incansavelmente. Agora não lembro o nome do velhinho, nem do filho, nem do cachorro, mas morro de saudade deles. Vou esperar por outra chuva no centro...