Aproveitou-se de seu corpo quase que inteiramente descoberto e entregou-se àqueles raios, que, timidamente, tocavam e iluminavam cada pedaço de pele. Fechou os olhos e imaginou o quão feliz seria repousar seu cansaço nos braços solares.
Esquentavam.
Suavam. Ambos. A atmosfera mudava. Aquecia. Vibrava.
O Sol já havia percebido a paixão da menina e, por andar muito sozinho, exceto pela companhia cinza das tristes nuvens de verão, aceitou-a como mulher. Como seria amar e fazer amor com um corpo terrestre?Como ser profundamente penetrada pelos raios de Sol? Num ímpeto de desejo, despiu-se do pouco que lhe cobria o corpo. Foi instantaneamente atingida por uma onda de calor que lhe penetrava o menor e menos perceptível dos poros. O Sol, em êxtase de ver aquele Ser tremendo em febre de amor, brilhava e queimava cada vez mais. Cedeu aos desejos da menina e penetrou pelos seus longos cabelos negros de ondas simetricamente desenhadas, tocou-lhe os lábios molhados, lamentando não sentir o gosto de sua língua. Beijou-lhe o suor do pescoço, escorregando pelo colo, para que enfim, pudesse acariciar-lhe os seios com o sutil toque de seus raios. Pôde sentir cada vértebra contorcendo-se tímida e secretamente.
Ficaram horas acariciando-se. Ela, pela energia que vibrava de dentro pra fora. Ele, através de todo calor que transmitia. Ela abandonara seu corpo (até então) de menina e, pela primeira vez, soube o que era dar prazer a outro Ser. A gota de suor provocada pelo toque gentil do Sol percorria cada centímetro de epiderme até descer de encontro à vulva, aquele caminho que é todo mistério para uns, onde poucos homens haviam percorrido, mas o Sol parecia conhecer intimamente cada traço daquele corpo. Agora já eram um só. Não se sabia quem era Sol, quem era menina.
Vibravam tanto que a Terra tremia inquieta. A Lua, que repousava, acordou num pulo assustado e, curiosa foi espiar o que acontecia ali do outro lado. Avistou um belo espetáculo e debulhou-se de inveja. Também desejava um amante terrestre.
Atingiram um alto ponto de desequilíbrio e leveza. Ela não sentia mais coxas, nem braços. Estava imerge em pensamentos de prazer enquanto o Astro mostrava-se mais brilhante e poderoso. Agora, porém, estava levemente enfraquecido - pois o amor tinha dessas, pensava. Cansa e extasia.
Reverberavam em gozo.
Explodiam.
Renderam-se ao cansaço e entregaram-se ao crepúsculo. A Lua ansiava por sua vez.