domingo, 30 de setembro de 2012

certa manhã acordei de sonhos intranquilos.


Hoje de manhã, a cama me saco-dia e senti-me num impulso de despertar, antes que todos os sonhos se confundissem e fundissem com a realidade e possíveis devaneios - que também seriam interrompidos. Os livros na estante me esperam. Os papéis assustam-se. Somado a todas linhas. O divã não está lá. E-mails e tecnologia. Os carros gritando inverdades, injúrias e buzinas após às 8h. O velhinho da guitarra não deve ter dormido essa noite, acordou agitado e aos berros. Mais cafeína aqui dentro, por favor.
Enxaqueca, hoje não!
Acordei querendo ser feliz. Querendo ser mais dentro da vida de alguém. E dentro de alguém, sim, por que não?
É preciso dar o primeiro passo. E o último também. Porque eu sou exatamente isso. Dou tantos primeiros-passos que no meio do caminho estes se cruzam, colidem e ninguém mais sabe para onde vai. Nem se deve, ou se há algum outro lugar para ir. 
(...)
(...)
(...)
Não há. 
Mais um incenso de Patchouli. Os livros na estante me esperam. Novamente.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

quando ele viveu o que eu sinto...



(Caio F ao amigo Charles K.)
"Andei escrevendo bastante. De repente, acho que está saindo um livro novo. Sabe que tenho MEDO de escrever? Evito sempre que posso. Dá uma grande exaustão, depois... Uma exaustão agradável, mas a cabeça fica excitada demais, é qualquer coisa muito próxima da loucura. Mas nos últimos tempos não tenho conseguido evitar. Vai saindo. É meio assustador."


Não há mais unha, mais pele, mais espaço, nem ruas, nem calçadas em que todo esse caos interno possa transitar. Nem comida ou ao menos um café suficientemente saborosos para que possa ser esquecido toda amargura diária e mau humor alheio. Andei perambulando dentro de mim e sob pensamentos germânicos que me confortavam por um espaço curto de tempo. Tempo. Tempo. Tempo. Me sobra, me acanha, me perturba e me digere. Aos poucos percebi que esse caos não estava apenas dentro de mim. Estava entre minhas relações, meus anseios, meus desejos e tudo que nele se concretizava. Não acho mais fim, nem ponto, nem meio, nem vírgula. Não sigo mais as regras ortográficas e cansei-me de meias-palavras. Não quero mais pregar falso idealismo, nem aceitar meias-verdades.



Se queres ser feliz como me disse
No Analices
No Analices..


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

80 km/h


De um lado, a prole sendo afetuosamente cuidada, quase intocável. Do outro, uma ruga protegia a outra com garras não menos frágeis. E eu adentrando aquele espaço, exatamente o meio.  "Pode encostá-lo em mim, se você quiser". Bobagem. Ela não precisava da minha perna-apoio. Tenho certeza que levaria consigo mais três destes, se preciso fosse. Mas, ainda assim, não me senti aberta à conversa com a mãe. Acho que nem ela, mas queria que o bebê apoiasse os pezinhos em mim. Diabo! Como queria sentir-me útil àquela pobre criatura reencostada em um travesseiro aparentemente confortável. Ali ele parecia mergulhado no sonho mais encantador que se poderia ter. Parei de pensar bobagens e ajeite-me na poltrona mais desconfortável do mundo.

Voltava pra realidade...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

vai-e-vem

As poesias que não saem da cabeça. O dia-a-dia mais longo do mundo. Nem 24 horas bastariam. As centenas de prosas e versos que eu nunca mostrarei. Nem pra mim mesma. As palavras que não disse. E as que disse. Os meninos malabaristas do canal. Eram professores. A Tia Ucha da segunda série e o seu violão. Os dias de brinquedo. A sexta-feira prometida. O dia da piscina. O corpo que se escondia. O salto olímpico mais alto que já dei. Que nunca se repetirá. As primeiras pulseiras. As miçangas. Junto com as linhas. O escorregador de tinta fresca. A piscina de bolinha que traumatizou. A primeira cachorra. O primeiro peixe. O cheiro da ração. Os dias de morte. A melhor batata frita do mundo. O quartinho da bagunça. O primeiro computador. Meu jornal de papel. As horas despendidas para o primeiro site. A banda favorita. O primeiro show da banda favorita. As poesias de $0,10 centavos. As férias em Peruíbe. O cheiro do cloro da piscina. O cheiro da baleia-boia. O cheiro do churrasco. A casa do Tio Leão. O chinelinho da Mônica e o tênis da Jessie. O tênis de luz vermelha. A Barbie que eu nunca tive. O melhor Natal. E o pior. A coleção infinita de livros. Os livros de borracha. De madeira. De plástico(...). Os livros que eu nunca escrevi. Os que eu ainda escreverei. A textura da serpentina. E dos confetes. O carnaval no clube. A casa da Tia Celeste. As pegadas do coelho-avô-da-Páscoa. O desejo de ter mais que 12 anos. O medo que segue até hoje. A cerveja do pai. A vitrola do avô. Os bordados da mãe. O açúcar roubado. Os beijos roubados. O jeito precoce. As comidas de água e farinha. A cozinha perfeita. Não era mais tão perfeita assim. A primeira montanha-russa. Despencou.



O tudo que eu fui e morreu. E tudo que eu ainda posso ser.
Nostalgia não é tristeza. Ao contrário.