sábado, 20 de abril de 2013

a senhora dona do cheiro de travesseiro.

O cheiro do quarto. Era um cheiro peculiar, de seus perfumes que lutava diariamente para que estivessem lá, presentes. Seguro que não havia um que entrasse no quarto e não sentisse o cheiro que de lá exalava. Ou seria isso coisa da minha cabeça? É possível também, haviam muitas coisas dentro dela. Mas o cheiro do travesseiro é algo que não me sai da memória. o cheiro e seus afetos. Entrava correndo no quarto para acordá-la e metia o nariz no travesseiro - ou melhor dizendo, nos travesseiros, visto que seu companheiro de quarto dormia com dois no joelho, dois na cabeça, um no braço.
- Acorda, acorda!
- Só mais cinco minutinhos, Jé...
(...)
(...)
- E agora? Já dormiu os cinco minutinhos?

Mais vinte minutos na cama. Não há nada que vinte minutos na cama não resolva. Depois de abrir os olhos, vinte minutos na cama, é essencial, faz bem pro coração e alivia.
Levantava e rotina diária de higiene. O jeito de ajeitar o cabelo. "Preciso dar um jeito nessa coisa horrorosa."
E também o jeito de servir-se de café. Como demorava para comer! Minhas pernas já estavam impacientes.  A mania de decidir no café da manhã o que iria almoçar mais tarde. Não! Não! Esquece isso, vamos comer esse aqui, primeiro...
As brincadeiras de um futuro inimaginavelmente bom! A Ana, o Pedro e o Lucas. Não lembro quem era o mais velho, mas você também não. Mais um café, mais conversas que ouvia atrás da porta e queria reproduzi-las com você. Não sei o quanto você compreendia ou gostava daquilo tudo. Mas eu adorava. Obrigada por esse tempo despendido todo para mim. Para nós.
Depois de alguns anos, depois das conversas de conto de fadas, sei que por muitas vezes não tive a mesma paciência que comigo teve, mas, como somos terrivelmente egoístas e cuidadosos, sei que vais me perdoar, sim?

Agora não precisamos mais nos disfarçar de outros, fazer historinhas de chá da tarde, problemas com os filhos, com os maridos, agora podemos falar sobre a vida real. Olhando uma para a outra e com a sinceridade de uma mulher para com outra. De uma amiga para outra. De avó para neta. Agora caminhar com você pelas ruas é mais agradável, agora te entendo, te sinto no tempo e espaço certos.

Aqui, aí, do outro lado de lá, em um navio, no meio das areias, nas casas de jogos ilegais, no cinema, na sorveteria, tomando açaí, comprando qualquer porcaria em ruas, com os seus amigos, com os meus, em qualquer lugar. Te quero assim, sempre com essa gana de vida, de amor com tudo e todos. Como eu te admiro! Obrigada por me fazer mais mulher, mais humana. Feliz aniversário! Queria dar-te um abraço esmagador agora. Sinta-o daí!