segunda-feira, 17 de novembro de 2014

o parto que pariu. I

Acontecia sempre à noite. Enquanto assistíamos nossa série favorita sentados no colchão da sala algo de repente revirava na minha barriga. Durava alguns segundos e passava. Segundos intermináveis em que o braço do Juan eram meu maior apoio. Mal sabíamos que era só o começo. Esse era o anúncio de que algo iria acontecer, estava para acontecer...já havia passado o momento! 40 semanas e 1 dia, 2 dias e infinitas opiniões: "E esse bebê não quer saber de sair?" "Para quando?". Somos tão inocentes para querer saber mais do que a própria natureza do corpo. Eram quase oito horas e aquele já conhecido movimento recomeçava. Já sabíamos o que poderia ser e o sintoma sempre é amenizado quando previamente enunciado. Dez horas da noite. Depois de uma certa insistência alheia, liguei para o instituto médico que me receberia. Ter que descrever todas as sensações de dor e tempo não era o esperado para o momento, mas era tudo que a voz do outro lado tinha interesse em saber. Cedi e fomos ao hospital, onde chamaram meu obstetra enquanto examinavam minhas contrações através do cardiotoco. Ele chega. Exame de toque. Nada, era o que me diziam. Nada de trabalho uterino, nada de nada. E meu corpo gritava o contrário enquanto mais contrações vinham. "Você quer passar a noite aqui ou voltar para a casa?". Não tardou nem cinco segundos para eu ter certeza que gostaria de ir para casa e lá ficar. O desânimo e a frustração cresceram em mim e em todos que ali me acompanhavam (e não eram poucos). As contrações cresciam a cada passo que eu dava em direção ao carro e assim foi até o caminho de casa. Subir aqueles degraus nunca foi tão difícil. Difícil mesmo é verbalizar todas aquelas sensações. Eu já sabia que o Benja estava por vir, não havia outra. E as dores se intensificavam a cada minuto. Meia noite. Banho. Muito banho quente seguido de alguns alívios momentâneos. A casa toda se movimentava. A madrugada parecia anunciar que seria longa. Água quente e carinhos. Massagens e nada de dormir. Duas da manhã. Companheirismo. Massagens e namorado. Mãe. Revezamento para dormir. Três, quatro, cinco da manhã. Eu já sabia que não iria esperar até às sete para voltar ao hospital - como combinado. Seis da manhã e a casa despertou para acompanhar-me. Amigos e toda força do mundo. Hospital vazio. Mais exames. Cardiotoco. "Já há alguma coisa mas ainda não é o suficiente." Já sabíamos. Fui levada para um quarto no andar de cima. Meu quarto pré-parto. Era ótimo. Com banheiro, chuveiro, janela. Poltrona e sofá. Um quarto só para mim. Sentia muita fome mas não podia comer caso houvesse alguma complicação e necessidade de uma cesárea. Eu repetia a mim mesma que não.Sete da manhã e nada de obstetra. "Teve um probleminha no outro hospital". Eu metida embaixo do chuveiro e de lá não saia. Algumas enfermeiras que já eram conhecidas depois de 7 meses indo e vindo de exames rotineiros apareciam no quarto para observar o processo. No geral, eram todas muito atenciosas e tentavam  me tranquilizar ao máximo, dizendo que eu poderia ficar embaixo do chuveiro o tempo que fosse necessário. E assim o fiz. Era muito cólica e o meu obstetra chega entre uma contração e outra.

terça-feira, 1 de abril de 2014

aponta pra fé e rema...

e rima.
daqueles dias em que quarenta minutos embaixo do chuveiro é pouco tempo, não importa se você aumenta ou diminui a temperatura; são nesses dias em que dormir o dia inteiro é o único que te alcança. e as pessoas sempre parecem mais felizes (e mais dispostas a te importunar, também, é claro). dos dias que só muita batata frita pode curar essa ressaca. ressaca de vida embutida, enlatada, fodida. são nesses dias em que o barco ameaça afundar. quando você tropeça no cruzamento. quando você se corta com papel sulfite. quando o alho queima. o arroz queima. a cerveja vem quente. o gás acaba no meio da janta. e nada importa. porque nesses dias, somente dormir te alcança. sua cama está lá.
e é isso que importa.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

para guardar

Em meus olhos confio mas nem tanto
Prefiro a voz que em meu peito grita
Se minha força é continua, minha ação se concretiza
Realize seu sonho, reaja, reflita:
Minhas mãos estão abertas, mas teus pés só tu move
Será que tua essência já virou poeira ou você precisa que eu te prove
O silêncio é a resposta para a tua inação
O caminho se encontra na meditação
No vento, no tempo, só existe ilusão
Derrube esse véu que te cega é de maia
Fantasia que ilude, alucina, atrapalha
Feche os olhos e veja o que o silêncio tem para te dizer
Abra os braços e receba o que o mundo tem para lhe oferecer
Enlouqueça, aconteça, mas exerça a essência do teu ser
Não há nada no mundo precioso como isso para você
Abra a mente e jogue fora o desuso, o inútil, o banal
Pare um pouco e deixe de lado o apelo racional
Sinta esse brilho que intui que propaga essa luz
Divina força que indica, orienta, conduz
Que nada apaga por que nada é em vão
Não há medo se ocupo meu tempo em ação
Não há dúvida, nem dor, nem preocupação
Só um relato que ilustra essa “vibe” que sinto
Compartilho essa luz, digo a verdade, não minto
Me sinto a caminho, não importa para onde
Nada de mim escapa, nada em meu ser se esconde
Sempre me levanto depois de um tropeço
Aceito, entrego, confio e agradeço!


de: http://colchademetaforas.wordpress.com/

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

tirem seus medos de nós!

Um dia levantar da cama já não era tão fácil, levantar do chão tão pouco. Caminhar na avenida debaixo do sol do meio-dia tornou-se árduo. E ninguém entendia o porquê. Ou não queriam entender. Mas bastava cruzar com uma senhora de um pouco mais de 40 anos para ser atingida por um daqueles olhares."Essa juventude." Comecei a me sentir como uma adolescente, daquelas que mal tem corpo formado, aquela história de uma criança carregando outra. Esses olhares que de início machucavam um pouco, viraram aliados, faziam-me imponente e certa de que estava exatamente onde deveria estar. Bah! Não certa, mas segura. Não segura, mas sem medos. Porque as pessoas também fazem isso com você. Talvez se sintam incomodadas quando não demonstramos insegurança ou medo e então querem infiltrar isso em nossos corpos e mentes. Seria o caso de andarmos com cartazes no pescoço "Sim, estamos grávidas. E não, não precisamos dos seus respectivos medos em nossos corpos"? É claro que assusta, é intenso, é pesado. Mas também é lindo, é doar, é renascer. E como seria a vida se não dessa maneira? Podemos não ter ideia do que estamos fazendo, do que nos espera e do que será essa nova caminhada. Mas caminhamos com uma certeza: estamos fazendo. E fazendo como sentimos. Assim que deve ser.
Por favor senhoras e senhores, tirem seus medos de nós.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

10-01-14

naquele dia eu me apaixonei por ele outra vez. acho que era a décima ou vigésima. não, melhor não escrever números, porque os números sempre mentem. mas eu me apaixonei de novo. e talvez pelo dente quebrado ou por como os óculos te caem no rosto. até pelo dedo rasgado eu me apaixonei. e mesmo com a barba feita. e como todo o mundo parece explodir em calma quando você está perto e como nos sentimos cômodos um com o outro. o jeito que você assobia uma canção enquanto está pintando. e o ângulo que você inclina a cabeça sempre que desenha. como inclina todo o seu corpo enquanto está desenhando. e me olha. como toca a madeira e põe toda sua concentração nela. como põe toda concentração em tudo que faz - e como eu sinto inveja disso! naquela noite eu me apaixonei por você de novo e foi tão natural que me fez chorar. talvez haja gente que exploda de amor por nunca chorar por ele. naquela noite eu não saberia dizer o porquê, mas de novo me apaixonei por você. talvez sejam os óculos ou como eles me olham.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Uf! Recomeçou...
que possamos celebrar novos erros!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

()

o corpo sem paz
que fadiga de noite
fadiga de dia
proclama a dor
e reclama companhia
chora de saudade
chora de vitamina
falta paciência
sobra poesia.